20 de out. de 2009

Intervalo Musical – Vamos Voltar à Pilantragem

Apita o árbitro ! Final do primeiro tempo. Hora o intervalo. E hoje vamos falar de música, cinema e futebol.

Em maio deste ano, assisti no cinema o documentário 'Ninguém Sabe o Duro que Dei', e recomendo, goste você ou não de Wilson Simonal.

Vamos à apresentação: Wilson Simonal de Castro, cantor, brasileiro, (Rio de Janeiro, 23/02/1938 – 25/06/2000), filho de empregada doméstica, era cabo do exército antes de começar a cantar e deu “um duro danado” ate revelar-se um “showman”. Começou cantando calipsos e rock em inglês e, de baile em baile, foi descoberto pelo compositor Carlos Imperial, o pai da 'Pilantragem', que o levou para o seu programa de TV 'Os Brotos Comandam'. No auge da carreira apresentava o programa 'Show em Si Monal' (primeiro programa de TV apresentado exclusivamente por um negro no Brasil)

O que era a Pilantragem?
Movimento cultural idealizado por Carlos Imperial, à pedido de Simonal, era o samba inspirado no soul e no rock (fazendo concessão ao uso da guitarra elétrica nos arranjos). Segundo o próprio Carlos Imperial: “pilantragem é a apoteose da irresponsabilidade consciente”.

O documentário mostra a vida deste artista genial, capaz de reger um coro de 15 mil vozes no Maracanãzinho (esta cena no documentário é de arrepiar). Mas além de mostrar o sucesso, mostra também a decadência e a pergunta que nunca calou “Simonal era ou não era um dedo-duro do DOPS (Departamento da Ordem Política e Social)?”.

O Crime:
Simonal achava que seu contador o estava roubando, contratou dois agentes do DOPS para torturar seu contador. Simonal, que já não tinha uma posição política claramente definida na época, declara: “Ninguém mexa comigo porque eu tenho amigos no DOPS”. Processado sob acusação de extorsão mediante seqüestro do contador, Simonal levou como testemunha o agente, que o apontou em julgamento como informante do DOPS, foi julgado culpado pelo seqüestro e referido como colaborador das Forças Armadas. Neste momento foi decretada a morte da carreira do Simonal, que foi banido por músicos e jornalistas, caindo no ostracismo. Somente em 2003 Simonal foi moralmente reabilitado pela Comissão Nacional de Direitos Humanos, em julgamento simbólico. Tarde demais, infelizmente.

Com as declarações de Chico Anysio, Sergio Cabral, Miele (maravilhoso), Ziraldo e Jaguar, este que chora acompanhado de uma garrafa de cachaça, o documentário mostra que Simonal foi sim arrogante e pretensioso, ao mesmo tempo ingênuo, mas não um dedo-duro.

Algo que não sabia e descobri no documentário, foi sobre a amizade entre Simonal e Pelé. Simonal era garoto propaganda da Shell. O patrocínio ao cantor se misturava com o patrocínio à seleção brasileira da Copa de 1970. A Shell o levou ao México com seu grande amigo Pelé e cia., ele na condição de cantor oficial do Brasil.


Momento muito engraçado no documentário, é quando o próprio Pelé conta sobre a escalação de Wilson Simonal para jogar pela seleção na Copa. No primeiro treino Simonal quase morre com falta de ar, sem a menor condição física para jogar sai de campo carregado. Claro que tudo não passou de uma grande brincadeira, mas por incrível que pareça, Simonal acreditou que defenderia a “seleção canarinho” em um jogo de Copa do Mundo.

Fundador de um movimento cultural, apresentador de programa de TV, um grande comunicador cheio de empatia, carisma e “swing”. Gravou 21 LP’s, entre eles, ‘Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga’, só o nome do álbum já é espetacular, ‘Jóia’, que realmente é uma preciosidade, ‘Alegria, Alegria!’ e ‘Homenagem à graça, à beleza, ao charme e ao veneno da mulher brasileira’ .Cantou uma série de sucessos inesquecíveis como, ‘Mamãe Passou Açucar em Mim', ‘Sá Marina’, ‘Tributo a Martin Luther King’, ‘Meu Limão, Meu Limoeiro’ e ‘País Tropical’. Cantou contra o racismo e à mulher, cantou a alegria, a beleza e o amor.

Com muito gingado e uma voz poderosa, cantando “Nem Vem Que Não Tem, Nem vem de garfo, Que hoje é dia de sopa, Esquenta o ferro, Passa a minha roupa, Eu nesse embalo, Vou botar prá quebrar, Sacudim, sacundá, Sacundim, gundim, gundá!”, Simonal representou a pilantragem, conquistando tudo e à todos.

Culpado ou inocente?
Isso não importa mais. No final o que realmente pesa na história deste grande cantor, é a interrupção de uma carreira brilhante. Isso no país que adora esquecer e/ou perdoar pessoas como Jânio, Collor, PC e agora Sarney, Simonal pagou sua pena até o fim da vida, sem direito a anistia.

Hoje foi muito difícil escolher uma música.

DJ, toca esta por gentileza.

Chamada para próxima terça-feira: Intervalo Musical - Halloween

4 comentários:

Beto Almeida disse...

O Simonal (en)cantava muito. Uma pena que sua vida teve um fim trágico.

Unknown disse...

Adoro Simonal... E não sabia quase nada disso q vc postou sobre a vida dele... caramba!

Unknown disse...

nossa fiquei super a fim de ver o documentário!

Karen Bachega disse...

É pessoas !!! Assistam...