17 de jul. de 2009

Há Quinze anos...

Vocês se lembram exatamente onde estavam e o que faziam há 15 anos?

Nosso correspondente em Recife, feroz, camarada, boleiro e integrante da geração do Tetra, Tiago Pimentel, não só se lembra, como mandou um texto caprichadíssimo, onde traz suas sensações, suas emoções e vivências de 15 anos atrás.
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Há Quinze Anos...

A vida de um homem é marcada por ritos de passagem. O primeiro beijo, a primeira transa, o primeiro emprego, o primeiro show. Alguns homens não ligam muito pra isso, outros gostam de ficar remoendo esses assuntos. Me enquadro na segunda categoria, embora eu faça o possível para que minhas elucubrações concernentes aos meus ritos de passagem não se convertam em indagações acerca da canetividade da caneta, afinal isso não pegaria bem para um homem no alto de seus 30 anos.

Pois bem, dentre todos esses ritos, a minha geração tem um do tamanho do mundo, que é a conquista do Tetra-campeonato Mundial de Futebol, em 1994, nos Estados Unidos, esse país tão estranho aos amantes do esporte bretão.

Essa conquista foi tão especial pra mim por inúmeros motivos. O primeiro deles é que se em 1958 o país perdera o complexo de vira-lata, em 1994 foi a vez da minha geração perder tal complexo. Cresci ouvindo as histórias do meu pai sobre Pelé, Garrincha, Didi, Tostão e principalmente Nilton Santos (meu velho diz que não existiu, nem vai existir lateral melhor).

Mas fazia 24 anos que a seleção canarinho não brilhava em todo seu esplendor. E depois que Baggio mandou aquela bola pelos ares, eu finalmente compreendi as histórias do meu pai.

Não lembro de já ter chorado de emoção antes da Copa de 94, mas com a avalanche lacrimal após a final, eu virei um sentimental desmedido e sem vergonha. Já faz 15 anos, mas a comemoração histérica de Galvão Bueno (e Pelé, com sua gravata com a bandeira americana), ainda reverbera em minha mente. Me lembro de ter caído de joelhos e agradecido aos Céus, por estar vivendo tamanha emoção.

Outro motivo que me amarra a esta conquista tem a ver com um dos ritos de passagem da vida de um garoto de 15 anos. Eu, que havia estudado até a 8ª série em escola pública, no meu bairro, com meus amigos do bairro, estava numa nova escola, fazendo novos amigos. E embora alguns desses novos amigos tenham permanecido na minha vida até hoje, a Copa de 94 foi a minha copa com a moçada do bairro, os amigos de infância. Embora a vida tenha nos levado a uma série de encontros e desencontros, a conquista do Tetra é sempre um dos assuntos nos encontros. Kleber, Antônio, Vagnão, Caio, Daniel, essa é nossa e ninguém tasca.

Eu soube que seríamos campeões quando na partida válida pelas quartas de final, Branco enfiou aquele canudo nas redes holandesas. Engraçado que eu apenas ouvi o gol, pois nesse momento eu estava no banheiro descarregando o etílico. Mas quando voltei para a sala e ví meus amigos comemorando eu sabia que Deus, Buda, Alá, Ogum ou quem quer que seja, não seria tão mal a ponto de decepcionar aqueles caras. Mesmo na difícil semi-final contra o escrete sueco, eu estive confiante o tempo todo (nem a dancinha ridícula do goleiro Raveli abalou minha confiança, não obstante tenha me deixado putaço).

Fora isso, que beleza de Copa, por mais que os mal-humorados digam que não. Como eu gostava das outras equipes. Bulgária, Romênia, Suécia, Nigéria, e até os Estados Unidos, que quase estragaram a nossa festa nas oitavas de final.

15 anos passados, e nesses 15 anos uma final esquisita, outra belíssima conquista e uma copa perdida pelo salto alto, além das paixões, músicas, decepções e porradas que a vida aplica a nós de coração insensato, ainda guardo um lugar especial para Romário, Dunga (num vacila, rapá), Taffarel, Bebeto, Mauro Silva, Jorginho, Branco, e todo aquela maravilhosa seleção. É difícil expressar em palavras aquele momento, onde meu choro nunca foi tão sincero e feliz, então me despeço pegando emprestadas as palavras de Galvão Bueno: ACABOOOOOU, ACABOOOOOOU! É TEEEETRA! É TEEEETRA!
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O vídeo marotíssimo também é sugestão do figura:

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Dá-lhe Pimentel. O espaço será sempre seu, meu nobre.

PS: E tira logo umas férias e cai pra cá pra gente tomar umas cervas. O Fabinho paga a conta ;)

Um comentário:

Fábio B. A. disse...

Pago nada. Eu sou celebridade blogueira, os outros que tem que pagar pra mim, rsrs.

Mas desse dia eu me lembro de ter ligado pro meu falecido avô ao fim do jogo. "Vô, é tetra, ganhamos!". Ele só respondeu "É, ganhamos". Acho que depois de ter visto 58, 62 e 70, o tetra de 94 não foi lá tão sensacional pro saudoso velho...