10 de mai. de 2010

Coluna Café com Leite - Nem Freud Explica


            Quinta-feira acordei triste, de ódio com o mundo. Se tivesse chefe, matava, se tivesse namorada, brigava, como não tenho nada disso, fui pra padaria tomar café. É claro que o assunto da galera era futebol, mais especificamente a eliminação do Corinthians da taça Libertadores da América. Assunto chato bagarai, e vamulá, esse torneio é bem chinfrim. Dá pra levar a sério um campeonato que teve como finalistas São Caetano e Olímpia do Paraguai? Não, né.
            Meu estado mental era tão catastrófico que um monte de amigos que pensava torcer para times daqui da capital revelaram ser, na verdade, flamenguistas. Minha caixa-postal foi inundada de mensagens louvando a classificação dos rubro-negros, nunca vi ninguém comemorar uma derrota, mas sei lá, eu que não tava batendo bem da cachola mesmo. Decidi ir no psicólogo.
            E tolá, deitadão no divã (só vou em psicólogo que tem divã, culpa dos filmes que assisti) e ele começa o inquérito:
            - Como é seu nome?
            - Beto Almeida, seu criado.
            - Por que veio me procurar?
            - Não sei, doutor. Acordei triste, deve ser porque sou um apaixonado incorrigível.
            - Ah, que bom, você já tá dando o diagnóstico. E eu que tô ganhando pra te dizer isso...
            - É sério, doutor. Minha paixão começou desde moleque, e já tenho 35 anos. Nunca traí, sempre fui fiel. Deve ter algo errado comigo.
            - Desenvolva.
            - Olha, no começo meu pai não aceitava o namoro. Ele insistia que eu me apaixonasse por outra, que ele gostava mais. “Ela não serve pra você! Não te criei pra isso!”. A minha mãe, ao contrário, dava a maior força. Sabecumé mãe, sempre apóia os filhos. E aí, ficou aquela divisão na família... Acabou que meu irmão mais velho passou a namorar a menina que meu pai gostava, eu com o meu amor. O tempo passou, o velho viu que não tinha jeito e acabou aceitando numa boa. Hoje vejo que devia ter seguido o conselho dele, sofro muito.
            - Hum...
            - Como em toda relação, temos nossos altos e baixos. Muitas alegrias, muitas tristezas. Às vezes me irrito com ela, digo que vou deixá-la, mas sempre volto. Porque os momentos felizes em muito superam os momentos tristes. Nem ligo de compartilhar ela com um monte de gente. Até sinto orgulho disso...
            - Interessante...
            - Ela é tão incrível que ninguém fica indiferente diante da sua presença. Ou a amam, ou a odeiam. Nunca vi nada parecido, é coisa de pele mesmo. E esse ano é especial, ela faz 100 anos, queremos fazer uma grande festa. Mas ela não ta colaborando pra isso acontecer, não pensa no meu coração, a ingrata.
            - Rapaz, já sei qual é sua doença. Você é corintiano, isso não tem cura. Também sofro desse mal, e te digo que é melhor que pegar uma gripe. Vou te receitar uma injeção de ânimo e sugiro que fique sem conversar sobre futebol por alguns dias. Vai passar.
            - Brigado, doutor.
            Saí do consultório aliviado, mas com pressa. Ainda tinha de passar no cardiologista pra fazer a manutenção mensal. Corintiano sofre, meu amigo.

3 comentários:

João Paulo Tozo disse...

Que baita estréia Beto! Parabéns.

Karen Bachega disse...

Parabéns !!! Adorei.. mas tb não esperava menos ... =*

Corintiano sofre muito mesmo =(

Unknown disse...

É sempre um sofrimento! Mas é sempre um prazer... ser corinthiano é isso!