30 de mar. de 2009

Tostão e a Seleção

Mais um artigo genial de Tostão, publicado ontem na Folha de São Paulo, antes do jogo da Seleção. Confiram:

TOSTÃO

Luto que não acaba


O motivo principal da rápida e intensa queda de Ronaldinho é o prolongado luto por causa do fracasso na Copa de 2006
HOJE, MESMO se o Brasil tivesse um timaço, correria grandes riscos de jogar mal e/ou perder. Mas não são somente os brasileiros que terão problemas com a altitude. Também terão os equatorianos que atuam fora do país.
Vi, pela TV, a seleção treinar bastante os fundamentos técnicos. Não dou nenhuma importância a esses treinos em uma seleção. Ainda mais contra cones de obstáculos. Isso é ótimo para clube, principalmente nas categorias de base.
Não se aprende nem se aprimora os fundamentos com poucos treinos. Muito melhor é ensaiar situações de jogo, como marcar mais na frente, mais atrás, treinar bolas paradas, posicionar-se bem na defesa para receber o contra-ataque, quando estiver atacando, e no ataque, quando estiver defendendo, e tantas outras. Mas vão dizer que não há tempo, pois precisam fazer os "bobinhos" e os inúteis treinos de dois toques, em campos pequenos e com jogadores fora de posição.
Felipe Melo vai jogar ao lado de Gilberto Silva. Deveria ser um ou outro. Contra a Itália, os dois marcavam muito atrás e pelo meio, Elano marcava pela direita, e ninguém marcava o avanço do lateral-direito italiano. Como o Brasil venceu, tudo foi uma maravilha.
Com o canhoto Anderson, um pouco mais pela esquerda e no lugar de Gilberto Silva ou de Felipe Melo, a marcação no meio-campo ficaria mais bem dividida. Além disso, Anderson tem mais mobilidade e habilidade para passar rapidamente de uma intermediária à outra. Ele jogou muito bem contra Portugal e tem evoluído no Manchester United. Na hora em que o Brasil tem a perspectiva de possuir um grande talento no meio-campo, Dunga coloca o jogador na reserva.
Dunga enxerga a seleção atual com o olhar da seleção campeã da Copa de 1994, quando a equipe tinha dois excelentes armadores defensivos (ele e Mauro Silva).
O futebol mudou.
Todo o mundo quer armadores que marquem e ataquem. Não há mais lugar para dois armadores quase só defensivos, um ao lado do outro. No máximo, um. A não ser em momentos especiais, quando o time recuar para contra-atacar.
Gostei da escalação do restante do time. Se Kaká jogasse, Ronaldinho ficaria na reserva. Ninguém ficaria indignado. Nem Ronaldinho.
Continua o mistério sobre a intensa e rápida queda de Ronaldinho, com 28 anos. Não há mais a desculpa de que ele está em recuperação física. Entre os milhares de explicações que já li e ouvi, a que mais me agrada é a de que Ronaldinho teve um trauma, uma ruptura emocional após o fracasso na Copa de 2006, quando era a grande estrela mundial, e nunca mais se recuperou.
Esses traumas, perdas de pessoas queridas ou um grande fracasso profissional, são comuns em qualquer atividade. Às vezes, o fato é ignorado ou negado pelas pessoas.
O luto por essas perdas pode ser passageiro, prolongado ou para sempre. Seria como se um atleta perdesse a chave do cofre onde estaria a chama que iluminasse e incendiasse seu talento.
Ronaldinho precisa de ajuda psicológica. Ele e as pessoas mal informadas e/ou preconceituosas não acreditam nisso.
"Não sois máquinas! Homens é que sois!" (Charles Chaplin)


Um comentário:

Fellipe disse...

Texto perfeito,e acho que já esta mais que na hora do senhor Dunga dar uma olhada nos volantes que aqui jogam, como Hernanes e Pierre que são titulares facil facil. A questão do Ronaldinho é muito triste pois na geração do Ronaldo sempre preferi o bom e velho gaucho que com o seu futebol irreverente me conquistou, e quero muito que ele volte a ser o jogador melhor do mundo que um dia foi, nao como essa mentira que por acaso tambem tem Ronaldo, Cristiano Ronaldo.