Texto: Beto Almeida
Foto: Roberto Schmidt/AFP
Foto: Roberto Schmidt/AFP
Por isso sou torcedor da Celeste - uma seleção que brilhou muito no passado e que parece não ter se adaptado ao futebol atual - de força física, eficiência tática, pragmático e profissional. Passaram por uma ditadura que dizimou uma geração, estavam atordoados demais para se dar conta que o mundo se tornou uma imensa Chinatown onde se vende de tudo, corações e mentes e um pedaço do Céu por 10% do salário de um homem comum ou de um astro do futebol. Questão de valores, e os uruguaios têm lá os deles.
Claro estava que a partida com Gana seria um épico trágico, o Uruguai é o Corinthians da Copa do Mundo. Seus torcedores iriam sofrer até o último minuto, são românticos. O futebol imita a vida, seus castigos e dores e alegrias. Tomaram o primeiro golpe, um gol de Muntari no fim do primeiro tempo - não desistiram. Voltaram com garra, dispostos a superar o revés. Conseguiram o empate e foram melhores durante todo o segundo tempo - mas não conseguiram a virada merecida, indo para a prorrogação. Haja nervos, coração bate mais forte, o sangue ruboriza em nossos rostos apreensivos.
E, no final da prorrogação, quando tudo parecia decidido, o golpe do destino: numa cabeçada dum jogador africano a bola que vai ao gol, impedida pela mão de um jogador de linha uruguaio num ato desesperado que pode ser a redenção de todo um país - um jogador que se dirige chorando ao vestiário, expulso de campo. O futebol também demanda seus mártires.
Mas o Destino quer que a vitória venha assim, cruel: o melhor jogador de Gana põe a bola na marca da cal, toma distância, corre e chuta - um petardo que explode no travessão, cuias de mate são jogadas aos ventos, gritos saem das gargantas, ainda há esperança. Aguante, Celeste!
Cinco jogadores de cada lado são escolhidos para o pelotão de fuzilamento - a tarefa mais inglória deste esporte, todos são vítimas da Sorte. Penâltis deviam ser cobrados por poetas. Eles compreendem mais as aflições humanas.
E os uruguaios, repito, são uns românticos... Antiquados, botaram o coração na ponta das chuteiras - expressão em desuso, que só eles diriam sem constragimento.
Venceram.
2 comentários:
É me surpreende muito esse gigantee ``esquecido`` pela mídia mundial, afinal são poucos Bi no mundo, espainha e holandinha não são nada. Assisti ao jogo no rio onde a cada ataque africano todos que assistiam entravam em delírio, já eu fiquei quetinhoo, só esperando o agora MEU Uruguai aprontar mais uma vez.
Pois é, Fellipe... Agora é torcer pro Uruguai superar a Holanda. Não vai ser fácil, mas da forma como foi a vitória contra Gana dá pra dizer que a Celeste está predestinada a ser campeã.
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