Sociedade derrotada.
Desde 1995 que eu escuto essa balela toda de reforma estatutária no futebol. Para quem não se lembra, em 1995 aconteceu a batalha campal no Pacaembu entre a Mancha Verde e a Independente, que deixou saldo de dezenas de feridos e um morto.
De lá pra cá tentaram diversas ações, todas falidas. Baniram torcidas organizadas; Impediram a entrada de bandeiras nos estádios; Falou-se de lei Pelé a torto e a direito.
Fato é que nada disso funcionou. Todo dia de clássico é uma tensão que toma conta, não apenas dos torcedores envolvidos, mas e toda a população.
Pior que isso, pois não apenas em dias de clássico, mas mesmo durante a semana, em dias onde não se tem jogos, o medo persiste. Ou alguém se sente plenamente seguro por andar pelas ruas usando a camisa do seu time do coração? Eu não.
A verdade é que esse último final de semana foi, desde aquele fatídico clássico entre Palmeiras e São Paulo de 1995, o mais sangrento do futebol brasileiro.
No Morumbi, a indecência descarada de ambas as diretorias envolvidas, que elevaram a rivalidade a patamares onde deixou de ser mera rivalidade e passou ao ódio gratuito, culminou com os desagradáveis ocorridos ao final da partida. As diretorias de nossos clubes não se importam conosco, é bom que todos saibam disso.
No Maracanã, torcedores de Botafogo e Flamengo trocaram tiros na porta do estádio, simples assim. E em Minas, o simples fato de uma pessoa utilizar uma camiseta com insígnia e coloração diferentes, foi suficiente para que fosse alvejado e morto com tiros em pleno ponto de ônibus, por covardes torcedores rivais que passaram de moto e deflagraram, da maneira mais sórdida possível, o quanto estamos desamparados.
No dia seguinte, após enxurrada de ataques da imprensa e da sociedade - que diga-se de passagem, criam estardalhaço no calor do momento, mas depois simplesmente se esquecem de continuar a cobrança – fizeram com que novos personagens, munidos de antigos discursos, viessem à tona para prometer o que muitos já prometeram, mas que nunca deram a devida atenção – dar um mínimo de segurança e tranqüilidade para que pessoas, agora classificadas como “comuns”, como eu, como você, possamos curtir um dia legal, ao lado de nossos filhos, namoradas, esposas, amigos e parentes, naquilo que é, não sei até quando, a maior paixão do brasileiro.
Limitar o número de torcedor rival, permitir acesso apenas da torcida do mandante no clássico, são medidas que já foram utilizadas em outros países e não deram certo.
A verdade é que a sociedade é uma derrota só no confronto contra a bandidagem, nesse caso, não apenas no quesito torcedor, mas em todas as esferas. Hoje você saí para trabalhar e não tem 100% de certeza de que irá voltar para casa. Nesse contexto, o futebol acaba sendo apenas mais uma estatística no mundo de agressões que sofremos dia após dia.
É uma derrota atrás da outra, todos os dias. Uma goleada histórica, na qual eu não consigo enxergar esquema tático ou alterações que possam nos ajudar a virar o placar. Sei que nada sei, mas sei que do jeito que está, não podemos ficar.
Ao cidadão de bem, meus pêsames e um abraço,
17 de fev. de 2009
Chazinho de Coca - Sociedade derrotada.
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