Tostão, o simples
Tostão foi muita coisa, menos um cara "na média". Brilhante no futebol dentro e fora dos campos, brilhante como médico e professor. Brilhante. Um gênio da raça, como diria Juca Kfouri. Há alguns anos acompanho religiosamente a coluna de Tostão na Folha de São Paulo, todos os domingos.
Existem muitos poucos caras que falam de futebol e da vida (afinal, são quase a mesma coisa) como esse cara. Fiquem aqui com a coluna do último domingo. É brincadeira.
TOSTÃO
Coisas básicas, simples e óbvias
Não existem regras para se ter um bom esquema tático nem para um jogador e um time serem vencedores |
DIAS ATRÁS , escutei em um programa de rádio um "especialista" enumerar as dez características de um vencedor. Não tenho nenhuma delas. Não sou um vencedor nem quero ser, no sentido de ser um objetivo de vida. Apesar de não ter nenhuma das dez características, acho que fui bem nas minhas atividades de atleta profissional, médico, professor de medicina, comentarista de TV e de rádio e colunista de jornais.
Não fui melhor porque não tenho nem tive outras virtudes, que não estão entre as dez citadas.
Vivemos uma época de pressa, de simulações, de coisas espetaculosas, exageradas, do desperdício (a farra vai diminuir com a crise financeira) e também dos especialistas de coisas óbvias, que querem criar manuais para tudo.
Com frequência, existe um especialista dizendo na TV que o segredo para administrar bem o dinheiro é não gastar mais do que ganha.
Eureca!
No futebol, os especialistas de motivação, de autoajuda, adoram dizer que, se alguém mentalizar bastante, pode conseguir coisas que não imagina. Citam sempre pessoas que deram a volta por cima, como se todos fossem iguais. Cada um faz do seu jeito. Há várias maneiras de ser um vencedor e um perdedor.
Seguir a moda é uma característica do ser humano. É mais seguro. Basta um jogador dizer ou fazer alguma coisa, para os outros repetirem. Parecem robôs, guiados por seus empresários.
Isso não é só entre os atletas. Foi só um comentarista pedir a convocação de Amauri, da Juventus, para a seleção brasileira, para tantos falarem o mesmo. Ainda bem que Dunga não foi atrás. Amauri é um bom atacante, mas Luis Fabiano, Pato e Adriano são melhores.
No Brasil, a moda é jogar com três zagueiros.
Na verdade, não é mais moda, já que muitos times jogam assim há vários anos. Para funcionar bem, os zagueiros precisam ser rápidos para chegar à lateral, os alas têm que ser armadores, e o time precisa ter pelo menos um volante que marca e chega bem ao ataque. O São Paulo tem tudo isso.
Já a moda na Europa é atuar com um centroavante e mais um atacante de cada lado. Para funcionar bem, esses "pontas" precisam ser velozes, habilidosos, capazes de marcar e chegar rapidamente à frente, para cruzar, ou entrar pelo meio, para finalizar. Há grandes jogadores fazendo isso, como Cristiano Ronaldo, Messi, Henry, Robinho e Robben. Apesar das confusões fora de campo, Felipão deve ainda sonhar com Robinho no Chelsea.
Alguns times brasileiros começam a jogar com dois atacantes pelos lados, embora não exista formação desses atletas nas categorias de base. Cuca joga assim há vários anos. Se um time conquistar um título importante, outros irão fazer o mesmo, como aconteceu com os três zagueiros do São Paulo.
Não há um esquema tático ideal. Vai depender das características dos jogadores. Isso é óbvio, simples, básico, um lugar-comum. Mesmo assim, muitos técnicos não sabem nem fazem isso.
Os grandes talentos são os que conhecem profundamente o básico, enxergam o óbvio, executam bem as coisas essenciais e tornam simples o que é complexo.
2 comentários:
vixe, tostão é um monstro, excelente texto, ele leva o papo de futebol, mas é tranquilamente aplicavel no dia a dia tambem ... palmas para o mestre...
o lance é definir o esquema de acordo com as peças, pena que muitos tecnicos nao pensam assim ...
Que blz de texto, sabe quase nada esse Tostão
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