25 de out. de 2010

Não importa


Texto: Beto Almeida
Imagem: Junior Lago/UOL

O  telefone toca. Minha mão tateia o colchão, procurando o aparelho celular. O quarto está escuro, as janelas fechadas. Do outro lado da linha fala João Paulo Tozo, editor do Ferozes F.C.:
- E aí, Beto... Como vai essa força? Tá sumido, rapá... A galera tá com saudade dos seus textos...
- Pois é, João. Ando meio deprimido, sacumé, não consigo escrever... Falta inspiração e vontade.
- Mas, por quê? Que tá acontecendo contigo, malander?
- É o Timão, cara... Não ganha mais nada, tá osso...  Não tô acostumado com essa seca severina...
- Mermão, essas coisas acontecem, relaxa...
- Quéisso... Pode acontecer com você que é palmeirense, mas eu... Cara, é difícil.
- É só futebol, velho... Ninguém morreu... Sai dessa, bicho.
- Eu sei... “A mais importante das coisas desimportantes” e blábláblá e tal...
- Cara, experimenta sair de casa um pouco. Quem sabe dando uma volta você acaba tendo uma inspiração, sei lá.
- Beleza, cara. Vou fazer isso.
Levanto, tomo um banho. Visto qualquer coisa e saio pra rua. O dia está esquisito neste domingo, um céu cinza. Pensando bem, isto não é esquisito. Não em São Paulo
Pais passeiam com seus filhos. Homens e mulheres passeiam com seus cães. Vou até a padaria, tomo um café. Converso com a balconista e com o chapeiro. Vejo as mensagens deixadas por amigos e amigas no celular.
Encontro meu irmão. Tomamos uma cerveja, botamos o papo em dia. Ele é palmeirense, coitado. Combinamos de ver o derby juntos, mais tarde. Damos risadas, a vida é boa. Ele se despede, pego o caminho de volta pra casa.
Cigarros são fumados, ligações são feitas. Uma mulher linda passa por mim, evita meu olhar. Folheio umas revistas na banca de jornal que não despertam meu interesse. Penso que amanhã é segunda-feira e tenho de ir ao trabalho. Não quero pensar nisso, penso novamente na mulher que passou por mim. Penso em outra mulher.
Meu vizinho maluco grita palavras de ordem aos passantes. Penso que queria estar na praia, tomando um banho de mar pra tirar toda zica. Uma roda de samba com os amigos. Vejo as crianças brincando na rua, penso que crescer é bom.
Meu irmão passa pra me pegar pra ver o jogo. Antes a gente almoça na casa dele. Minha cunhada fez arroz de forno acompanhado de sardinhas ao molho de tomate e pimentão. Muito bom.
A gente joga um pouco de videogame. Depois vai num barzinho assistir o jogo. A cerveja desce bem pela garganta, o papo vai fácil.
O jogo termina. O Corinthians ganhou de 1 x 0. Não importa. É só futebol. A mais importante das coisas desimportantes.

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