7 de jan. de 2010

LIXEIRA CELESTIAL

Do site “Mulher e Futebol”

LIXEIRA CELESTIAL

Com o mesmo sofisma de sempre, tentarei induzi-los sutilmente pelos caminhos tortuosos de meus pensamentos malignos e, cabe aqui um aviso, os argumentos podem partir do falso ao inconclusivo, portanto, não merece que ninguém se sinta ofendido.

Um dia, num jogo decisivo, vi pela TV um Padre na torcida. Deveria ser proibido, acho covardia. Ele fala diretamente com a Chefia, tem moral e tem o poder de perdoar pecados como xingamentos à mãe do próximo, no caso, o árbitro. Chega a ser um doping de torcida, um chunchu. Não é justo que um time conte com uma reza oficial, profissional e exclusiva, enquanto os outros padecem com mandingas amadoras e mixurucas, como colocar a mesma cueca da sorte a cada nova decisão do brasileirão e ainda, carregando nas costas, toneladas de pecados imperdoáveis.


Me intriga pensar quais seriam as ofensas proferidas por um Padre, quando o goleiro do seu time toma um frango. Será que ele parte pra ignorância e xinga sem piedade, coisas como: “panela queimada!”, “xícara sem asa!” e “bolacha sem recheio!”.


De qualquer modo, o time para o qual o Padre parecia torcer, perdeu e comeu o pão-que-o-diabo-amassou, com o perdão da citação. Será que nestes casos de futebol, um Sacerdote fica terminantemente proibido de usar seus poderes e seu cargo em vão (desculpe pelo "em vão", eu sei, futebol é sagrado)? Ou, será que a oração dependia de cada um dos 30 milhões de torcedores estar em dia com o carnê celestial? Sem dívida pecaminosa, confissões atualizadas, zerados pra xingar à vontade.


Outra coisa que perturba o meu sono é o time que ganha sem merecer. Quais os critérios divinos utilizados para todos serem atendidos com justiça? No fim das contas, Ele deve ser parcial ou imparcial? Como ser neutro sabendo do passado e do futuro de todos os envolvidos, dentro e fora de campo? Quanta gente ali, com aqueles pensamentos condenáveis, "jogando água fora da bacia" e mesmo assim, levando a melhor.


E se o time ganhar com gol “roubado”, um Dirigente Espiritual não deve intervir? Perdoar o juiz e deixar a coisa seguir em frente, não é prevaricação? Minha mediocridade e falta de conhecimento nos dois assuntos - religião e futebol, que teimam em se misturar dentro e fora de campo - impedem que eu compreenda questões tão complexas e contraditórias. Mas, uma coisa eu farei para ajudar, mandarei um tweet para o @Ocriador, sugerindo que as autoridades espirituais não tenham um time do coração, e de quebra, perguntarei sobre “La mano de Dios” do Maradona. Afinal foi Ele ou foi ele?


Já escrevi no texto "crendo, descrendo e torcendo" sobre as manobras mentais que o torcedor ateu-graças-a-deus precisa fazer para acreditar-não-acreditando, em qualquer mandinga na hora do jogo decisivo, o que nos leva a outras suposições: Primeiro, se o time tem torcedor ateu, já sai em desvantagem diante das decisões divinais; Segundo, é imperdoável que o elemento use da descrença-em-coisas-invisíveis em momentos intelectuais e da crença-em-coisas-invisíveis apenas quando lhe convém, como nos dois casos mais importantes de sua vida: em finais de campeonato ou no seu leito de morte.


Entre tantas dúvidas, não podemos deixar de mencionar a mais atual delas: que peso teria uma cueca da sorte, usada em toda final de campeonato (muito importante: sem lavar), comparada a uma oração coletiva que acorda toda a vizinhança (como está na última moda entre os jogadores)? Devo ressaltar que, fazer doação de milhões para Igreja, sair pastoreando o rebanho e construir um templo, estão fora de questão, é covardia colocar puxa-saco - que adora tomar toda atenção do Onipresente apenas para si próprio - no mesmo patamar de pobres mortais que contam apenas com a cueca encardida para ajudar causas nobres.


E os jogadores - aqueles que não nadam em dinheiro - se ganharam ou perderam o jogo não vem ao caso, mas em que ponto erraram para não obter o lucro exorbitante? Transaram antes do casamento?


Para onde vão - no mesmo pé de igualdade, para não discriminar nenhuma forma de expressão da fé - as preces, orações, os “trabalhos”, simpatias, rezas, pedidos, promessas e mandingas, quando não encontram um lugar, quando não são ouvidas e atendidas? Ficam num grande arquivo celestial reciclável, ou são como spam, aqueles e-mails que ninguém quer receber, e vão direto para a lixeira celestial?


Quanto ao domingo, é bom que o torcedor brasileiro se apresse em fundar uma nova religião, já que na Argentina, desde 1998 existe a Igreja Maradoniana, tipo de coisa que só torcedores de futebol, ateus ou não, são capazes de criar e acreditar.




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