Não escutei muita coisa do que ele falou no meio do ziriguidum em que eu estava imerso, só sei que combinamos de eu escrever um texto sobre o triunfo Rubro-Negro na tarde de ontem. Irei fazê-lo de uma forma bastante pessoal, talvez para tentar traduzir um pouco o que é ser flamenguista – ser flamenguista em São Paulo.
Fui assistir ao jogo final no bar em que se reúne a torcida flamenguista em São Paulo, trajando meu manto versão retro Campeão Mundial 1981. Na plataforma um rapaz me aborda perguntando se eu estava indo para o referido bar, pois ele, vindo de Vitória, não sabia nele chegar. No percurso juntou-se a nós outro flamenguista, esse oriundo de Brasília. Quando chegamos ao local, aquela cena que nos encanta: várias, várias camisas rubro-negras reunidas, das mais diversas idades, origens geográficas e sociais cantando os temas que enaltecem nosso time de coração.
Minha experiência de mais de 25 anos de torcida pelo Flamengo já dizia: não será fácil. Não importa com quem fosse esse jogo: reservas do Grêmio, o time titular do Barcelona ou a seleção do meu condomínio. Não seria fácil – com o Flamengo nada é fácil.
Não tenho muito a escrever sobre o jogo de ontem porque, sinceramente, pouco consegui assisti-lo. A tensão era tamanha e tudo o que eu conseguia fazer era cantar, gritar e fechar os olhos nos momentos decisivos. Fiquei especialmente contente pelo Angelim ter feito o “gol-do-título” de cabeça, tal qual um ressurgimento do Rondinelli, o eterno “Deus da raça”, naquele grande vitória contra o Vasco em 1978.
Flamenguistas, São Paulinos, Palmeirenses, Colorados, Atleticanos e Cruzeirenses sabem o quão parelho foi esse campeonato, permeado pela irregularidade das campanhas: Inter, Atlético e Palmeiras começaram bem . O Atlético e o Palmeiras caíram demais enquanto que o Inter teve uma queda com uma recuperação na reta final. Cruzeiro, São Paulo e Flamengo, o oposto: começaram mal e foram tomando corpo ao longo da temporada. O São Paulo, contrariando o que costuma acontecer, refugou no momento decisivo. O Flamengo não.
A chegada do Andrade a condição de técnico foi a grande virada. O Flamengo tende a funcionar melhor quando alguém que fez história no clube assume a equipe. Segundo soubemos, Andrade com seu jeito simples conquistou o elenco que se fechou em torno dele ele e sagrou-se hexa-campeão brasileiro. Conseguiu, também, mudar o padrão de jogo que o Flamengo vinha tendo desde Ney Franco passando por Joel Santana e Cuca: o time passou a ter um jogo mais leve e fluente. Claro que isso também se deve ao retorno do Pet à Gávea. E com ele, queimei a língua – agora presto minha reverencia. Sua entrada na equipe foi pra lá de fundamental.
O Ronaldo disse algo muito curioso sobre os corinthianos: parece que quanto mais sofrem mais apaixonadamente torcem. A sensibilidade rubro-negra do maior artilheiro das copas sabe do que está falando, afinal, com o flamengo não é diferente – é verso do hino Rubro-Negro: “na regata ele me mata, me maltrata, me arrebata, que emoção no coração”.
Pois é isso, ser Flamengo não é pra quem tem coração fraco nem para os apreciadores de um texto leve e bem resolvido. Não. Ser flamenguista é para quem gosta de drama. E assim o foi!
Dedico esse texto ao Guilherme e ao Felipe, os torcedores rubro-negros que conheci ontem no metro e também ao seu Luis, um senhor simpaticíssimo que, antes do jogo de ontem, contou histórias sobre os jogos que assistiu no Maracanã nos anos 50.
Por Gustavo Dean.
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PS: Ano passado quando o Palmeiras foi Campeão Paulista (só paulista, mas campeão), a 1ª pessoa para qual liguei foi justamente o Gus. Não para extravasar, não para azucrinar, mas para desabafar e para pedir algo. Dos que formavam comigo a trupe do blog naquela época, eu o considerava o mais “sóbrio” como torcedor. Um paulistano flamenguista não era exatamente o perfil de um sanguíneo torcedor, como ele me classificou acima. O doce e sublime sabor de uma conquista, independente do seu tamanho, me embebeda a alma, entorpece o meu pensamento, me cega. Enxerguei nele a chance de levar ao blog um texto coerente, sem grandes inflamações e que certamente seriam postas num texto meu.
Compreensivo ele escreveu, buscou expor o sentimento que ele capitaneou naquela minha ligação. Posteriormente eu acabei escrevendo algo. Dentro de um sentimento de paixão e alívio, tentando me conter ao máximo na minha “sanguinolencia”. Percebi ali que, por mais riscos que possamos assumir quando falamos da paixão clubistica, não se pode entregar a outro a responsabilidade de dizer a sua “nação” o que certamente todos eles estão sentindo também.
É por isso que, independente da ligação que ele me fez ontem, o espaço para as palavras do Campeão Brasileiro de 2009 seriam dele, seria do único flamenguista que eu conheço pessoalmente. Do único amigo que não é palmeirense, corintiano, são paulino ou santista. Do flamenguista que por ser paulistano, transparece certa frieza sentimental no que tange o futebol, mas que com toda a certeza, flagrantemente exposta ontem na voz já semi embargada pela conquista e por umas e outras, é um sanguíneo de veias hoje dilatadas de tanta ebulição causada pelo seu rubro-negro tão amado.
Um comentário:
texto apaixonado não difamador de outros times...assim eu acho justo.......parabéns ao mengo.
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